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Na rede pública, a razão é de menos de um médico para mil baianos. O dados do Conselho Federal de Medicina mostram que o estado ocupa o 18ª lugar em distribuição dos profissionais por cada grupo de mil habitantes
Thais Borges
thais.mascarenhas@redebahia.com.br
thais.mascarenhas@redebahia.com.br
Se você ficar doente, ou simplesmente quiser checar
se está tudo bem, provavelmente já sabe a quem recorrer. A figura
daquele médico vestindo o familiar jaleco branco logo vem à mente. Todo
mundo vai precisar de (pelo menos) um, ao longo da vida. No entanto,
nem todo mundo vai encontrar algum disponível quando precisar.
Isso porque o número de médicos na Bahia está
abaixo da média nacional e distante de locais como Distrito Federal e
Rio de Janeiro. Essa é a conclusão do estudo Demografia Médica no
Brasil: Cenários e Indicadores de Distribuição, divulgado no início da
semana pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pelo Conselho Regional
de Medicina de São Paulo (Cremesp).
De acordo com o levantamento, existem 17.741 médicos
registrados no Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb) para
atender a todos os 14.175.341 residentes do estado. Ou seja: se mil
baianos precisassem se consultar com um médico no mesmo dia teriam que
disputar um mesmo profissional, já que o índice não passa de 1,25.
Ranking
Se for comparado com outros estados, a Bahia fica em 18º lugar no ranking da distribuição de médicos. No Distrito Federal, por exemplo, são 4,09 médicos para cada mil habitantes, enquanto no Rio de Janeiro e em São Paulo, os índices são de 3,62 e 2,64, respectivamente.
Se for comparado com outros estados, a Bahia fica em 18º lugar no ranking da distribuição de médicos. No Distrito Federal, por exemplo, são 4,09 médicos para cada mil habitantes, enquanto no Rio de Janeiro e em São Paulo, os índices são de 3,62 e 2,64, respectivamente.
O Brasil, com dois médicos para cada mil pessoas,
também, não está na melhor das situações — ainda que o índice seja maior
que o da Bahia. Apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) não
definir um número ideal de médicos, o país ainda fica atrás de vizinhos
como a Argentina, que tem uma média de 3,16 profissionais para cada mil
habitantes.
Cuba, que lidera o ranking de países segundo estatísticas da própria OMS, tem 6,39 médicos pela mesma quantidade de habitantes.
Para o secretário estadual de Saúde, Jorge Solla, o
número de médicos para atender os baianos é insuficiente. “Se fosse o
bastante, não teríamos a quantidade de postos de trabalho abertos, nem
estaríamos recebendo médicos de outros estados devido à carência que
temos aqui”, disse.
Um exemplo dado pelo secretário foi que mesmo depois
de ter convocado todos os aprovados no último concurso para médicos na
rede estadual, realizado em 2008, até o ano passado, ainda há vagas.
“Vamos abrir uma seleção pública nas próximas semanas para contratos
temporários, na tentativa de suprir as vagas que o concurso não ocupou”,
afirmou Solla.
SUS
Os dados do CFM também indicam que a razão de médicos cadastrados no Sistema Único de Saúde (SUS) é ainda menor: 0,81%. Para o presidente do Sindicato dos Médicos da Bahia (Sindimed), Francisco Magalhães, o índice reforça que os médicos migram para a iniciativa privada. “O serviço público maltrata demais o médico. Então, quando surge uma oportunidade na rede privada é natural a migração”.
Os dados do CFM também indicam que a razão de médicos cadastrados no Sistema Único de Saúde (SUS) é ainda menor: 0,81%. Para o presidente do Sindicato dos Médicos da Bahia (Sindimed), Francisco Magalhães, o índice reforça que os médicos migram para a iniciativa privada. “O serviço público maltrata demais o médico. Então, quando surge uma oportunidade na rede privada é natural a migração”.
O secretário Jorge Solla, por sua vez, pensa que
esse resultado ainda deve ser analisado. “O problema é que temos casos
que não estão bem definidos. Muitos hospitais privados atendem pelo SUS.
É difícil encontrar algum profissional que não tenha um pé no SUS”,
replicou.
Novos cursos
De acordo com o secretário, um dos investimentos que vão ajudar a demanda no estado é a criação de novos cursos de Medicina e novas vagas nos cursos já existentes.
De acordo com o secretário, um dos investimentos que vão ajudar a demanda no estado é a criação de novos cursos de Medicina e novas vagas nos cursos já existentes.
No ano passado, a presidente Dilma Rousseff aprovou a
implantação de cursos de Medicina em São Antônio de Jesus, na
Universidade Federal do Recôncavo, em Paulo Afonso, no novo campus da
Universidade do Vale do São Francisco, além de Teixeira de Freitas e em
Barreiras, em novas instituições federais.
Solla também acredita que os investimentos são
suficientes para suprir a necessidade de trabalho dos profissionais.
“Nos últimos seis anos, criamos 1.300 leitos somente na rede estadual.
Isso significa um batalhão de postos de trabalho”, apontou.
Sem estrutura
Por outro lado, o presidente do Cremeb, José Abelardo de Meneses, afirma que o número de médicos do estado consegue suprir as necessidades da demanda.
“Em Salvador, temos até um número excedente de médicos. Cidades como Feira de Santana e Juazeiro têm um número de médicos ativos suficiente. Já numa cidade como Itabuna, temos um Hospital de Base com muitos médicos, mas totalmente sucateado”.
Por outro lado, o presidente do Cremeb, José Abelardo de Meneses, afirma que o número de médicos do estado consegue suprir as necessidades da demanda.
“Em Salvador, temos até um número excedente de médicos. Cidades como Feira de Santana e Juazeiro têm um número de médicos ativos suficiente. Já numa cidade como Itabuna, temos um Hospital de Base com muitos médicos, mas totalmente sucateado”.
A criação de novos cursos também não é vista com
bons olhos pelo Cremeb. “Em algumas profissões , para se formar, basta
bons professores e biblioteca. Medicina não é assim”. Na visão do
presidente do conselho, para que um curso funcione bem, são necessários
bons laboratórios, cadáveres, estrutura de laboratórios e de hospitais.
Para atrair médicos, prefeitos do interior engordam salários
Mais da metade dos médicos da Bahia está na capital. Segundo o levantamento do CFM, 60,6% deles estão concentrados em Salvador. Em Quixabeira, município que fica a 300 quilômetros de Salvador, o secretário municipal de saúde, Jessé Rodrigues, diz que há muita dificuldade em encontrar médicos dispostos a se fixar na cidade.
Mais da metade dos médicos da Bahia está na capital. Segundo o levantamento do CFM, 60,6% deles estão concentrados em Salvador. Em Quixabeira, município que fica a 300 quilômetros de Salvador, o secretário municipal de saúde, Jessé Rodrigues, diz que há muita dificuldade em encontrar médicos dispostos a se fixar na cidade.
“A cidade é pequena e não tem tudo que a capital
oferece, especialmente para jovens recém-formados. A maioria quer fazer
residência e não temos nenhuma aqui”, explicou.
Na cidade, os médicos são contratados pelo Programa
Saúde da Família (PSF), onde devem trabalhar 40 horas por semana, e
recebem cerca de R$ 10 mil mensais. “Tem alguns que acabam trabalhando
três turnos ou até dois dias e meio. É difícil segurar o médico por 40
horas em cidades no interior”.
Segundo o presidente do Sindimed, Francisco
Magalhães, os médicos muitas vezes são atraídos para o interior por
propostas ilusórias. “Aparecem salários astronômicos, mas quando vai
ver, a realidade é completamente diferente.
Temos diversos casos de médicos que trabalharam o
primeiro e o segundo mês, mas não recebiam. É o conto do vigário”,
denunciou. O presidente do Cremeb, José Abelardo de Meneses, também
reforça que alguns médicos se decepcionam no interior e, por isso,
preferem continuar em Salvador.
“É preciso compreender que a fixação de médicos em
locais de difícil provimento requer não só salários como o governo vem
oferecendo, mas também infraestrutura. Existem muitos hospitais no
interior sem resolutividade”.
Especialista raro na Bahia começa ganhando R$ 15 mil
Em todo o estado, segundo o levantamento do CFM, existem apenas 22 médicos especialistas em radioterapia. Um deles é Arthur Accioly, 40, médico dos hospitais Português e São Rafael, além de coordenador do núcleo de radioterapia do grupo Delfin.
Em todo o estado, segundo o levantamento do CFM, existem apenas 22 médicos especialistas em radioterapia. Um deles é Arthur Accioly, 40, médico dos hospitais Português e São Rafael, além de coordenador do núcleo de radioterapia do grupo Delfin.
Arthur é um médico oncologista que usa a radiação
para o tratamento do câncer. Sem fazer ideia do que era a especialidade
na época da faculdade, ele disse que caiu por acaso na área ainda pouco
explorada.
“Só fui ter contato depois de formado, porque fazia
radiologia e acabei tendo acesso à radioterapia”, explicou o médico, que
concluiu o curso na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, em
1995. Ele logo foi atraído, assim que conheceu a radioterapia. “A gente
mexe muito com imagem e tecnologia. É bastante dinâmico”.
O médico acredita que o motivo de a área em que
trabalha estar sendo mais divulgada somente nos últimos anos é o aumento
do investimento para o tratamento de câncer. “Hoje a procura (de
recém-formados) é maior, porque a incidência de câncer é muito alta.
Isso faz com que aquela pessoa que nem pensava em oncologia comece a
cogitar fazer”, explicou Arthur, que fez residência no Instituto
Nacional do Câncer, no Rio de Janeiro.
Até hoje, não existe uma residência em radioterapia
na Bahia, mas quem se interessar pela área tem motivos para ficar feliz:
apesar de não revelar o salário, Arthur conta que um radioterapeuta no
início de carreira pode ganhar até R$ 15 mil.
Além da radioterapia, especialidades como cirurgia
da mão, torácica e genética médica são algumas das que tem menor número
de médicos na Bahia, com, respectivamente, 25, 23 e 6 profissionais
registrados.
'Vai valer a pena', diz estudante
É praticamente lei: para ser aprovado em Medicina, precisa estudar muito, já que sempre é um dos cursos mais concorridos. A estudante Rebeca Achy, 28, pode se considerar vitoriosa. Depois de cinco anos tentando, conseguiu a vaga na Escola Bahiana de Medicina.
É praticamente lei: para ser aprovado em Medicina, precisa estudar muito, já que sempre é um dos cursos mais concorridos. A estudante Rebeca Achy, 28, pode se considerar vitoriosa. Depois de cinco anos tentando, conseguiu a vaga na Escola Bahiana de Medicina.
Hoje, no sétimo semestre, ela já pensa no que vai se
especializar: Oncologia, Neurologia ou Pneumologia. “Quando entrei, vi
que era bem difícil, porque tenho que abrir mão de mim mesma, mas vai
valer a pena”, acredita. Para o professor do curso de Medicina da Ufba
José Tavares Neto, a alta demanda pelas vagas do curso tem razões
históricas.
“É uma das profissões imperiais, como Engenharia e
Direito. Assim, existe uma atração enlouquecida, que não sei explicar.
Todo mundo quer ser ‘doutor’”. No último vestibular da Ufba, a
concorrência foi de 58 candidatos por vaga.
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